Erva e dálias na latrina - fim do capítulo i (palavras 2068-2446)

A mulher do vestido púrpura dissolveu-se num suspiro felino. Depois pôs-se a juntar as margens do vestido que se rasgava do lado direito, dando para umas pernas que eram um rio que corria longo e forte sobre um leito  cartograficamente desenhado. L. L. James deixava o público em delírio Se ao menos sobrassem homens destes.. L. L. James apontava para Chad Smith e o que são homens destes, senão tipos que entram de piça intumescida e tomates cheios, ringue adentro? Ele não a levanta há anos, dizia ela. H. olhou-a e ela não pestanejava. Era como se o sugasse pelas pupilas feitas dum acidente cósmico, como quando uma estrela das que valem por mil sóis se enfada de ser luz (é que a escuridão, debalde o tamanho da escuridão, dispõe-se sempre em torno da luz). Que se foda a luz e a mão forte de H. era uma balsa rio acima ou um foguetão a cuspir querosene incendiado. Subiram e as pernas dela eram arneses e os lábios dela sobre os dele e, depois, sobre o corpo dele e os dele sobre o dela. Vamos, agora! Sim, sim, sim! Então já pouco sobrava dela que não fosse também H. Qual a distância mínima entre corpos para que passem a ser corpo? Haverá, decerto, um limite mínimo pensava H. As distâncias, todas elas (é certo), contrapõem-se, quais axiomas, ao que é singular, ao que é perto. O quarto transpirava pelos vidros das janelas. Do corpo da televisão, brotava uma antena amarela, amarelíssima, que captava a melhor estática do universo. Ela e o vestido e a distância. H. dentro dela, e fora dela e dentro dos lábios dela e ela sentada sobre os lábios de H. Tudo foi feito com gula parcimoniosa, tudo a seu tempo. O ritmo (a percussão dos corpos) era uma patologia cardíaca. Um, dois, três orgasmos e a erupção dele sobre a barriga dela. Ainda assim, desceram a tempo da salva de palmas. L. L. James incendiara o auditório e arrebatara todos os corações. Serayva adormecera, queixo sobre o esterno. H. perdoara L. L. James por ser um velho nojento. A mulher do vestido púrpura, como todas as mulheres de H., marcara-o com a mesma dor fervente com que se marca o gado. Mas não era ela.

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ERVA E DÁLIAS NA LATRINA (CAPÍTULO I, PALAVRAS 1510-2067)

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ERVA E DÁLIAS NA LATRINA - CAPÍTULO II (PALAVRAS 2447- 3107)