Crítica de Mónica Cabral do romance ‘viagem’

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"Partir era, como sugerido, quebrar, rebentar,  rasgar. Partir é a violência necessária para ter a legitimidade de gerar e ter algo verdadeiramente seu."

Jorge Budapeste nasceu em Riobarbo e desde os primeiros dias de vida que se destacou das outras crianças da cidade por ser uma criança peculiar. Para muitos habitantes de Riobarbo, Jorge era descrito como um rapaz estranho quer física quer mentalmente pois  hipnotizava todos com as suas histórias e fantasias. Desde muito pequenino que Jorge era um ávido leitor e sonhava um dia viajar e conhecer o que estava para lá das fronteiras da sua cidade.
Aos 17 anos Jorge decide abandonar Riobarbo para se aventurar pelo mundo. Sem um plano e rota definidos vai viver inúmeras aventuras: vê-se envolvido na Guerra do Ópio onde se torna uma lenda, faz parte dos elementos de um circo e transforma-se num homem que é moldado por toda a crueldade e violência a que assiste nesta sua jornada.


Com a sua escrita envolvente e  poética,  o autor transporta-nos para Riobarbo e sentimo-nos hipnotizados e maravilhados com este Jorge Budapeste e com outras personagens que habitam no seu universo de  realismo mágico.

Os seus pais Eduardo e Carolina,  a Anita Cravo, o enigmático Tiago Sevilla e o padre Jacinto, são alguns exemplos de personagens ricas e inesquecíveis.
Viagem ganhou o Prémio Ficção Narrativa Montijo Jovem em 2019 e é o primeiro romance do Pedro Miranda de Castro, é um livro belíssimo e de leitura compulsiva que me arrebatou neste início de 2024!

Crítica de Luciana p. jordão do romance ‘4420’

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Pode ler-se na sinopse deste livro que vamos conhecer o Filipe, um jovem empregado de armazém do Porto, envolto numa vida de precariedade, de prazeres mundanos e, ao mesmo tempo, num certo pessimismo crónico. Tudo parece mudar quando Fernando, um dos seus irmãos, é preso por narcotráfico.

Esta história tem, seguramente, uma sinopse cativante mas nada me fazia prever que me ia envolver tanto neste mundo do 4420, que dá voz aos portuenses, às suas características mais marcantes, de uma forma tão honesta, crua e, também, leve, com muito humor à mistura.

Este livro é um retrato de pessoas: do Porto, mas também do interior, e dos emigrantes que regressam, a cada mês de agosto, às suas terras. Todas as personagens apresentam várias camadas e, através de uma escrita que torna a leitura muito fluida, o autor leva-nos desde os pensamentos mais superficiais até aos mais profundos do protagonista, numa viagem até este seu mundo, que não é só o Porto mas cujo epicentro é o 4420.

Foi através da @visgarolhoeditora que descobri esta obra, uma editora que parece contrariar a corrente e valorizar trabalhos de qualidade em prol da quantidade, dando-nos a oportunidade de conhecer autores como o @otalpedrojoao.

Crítica de Mónica Cabral do romance ‘4420’

(sigam-na e leiam-na em https://www.instagram.com/cabral2025/)

"No 4420 não há tempo nem lugar para contemplações.  Trabalha-se para ter tecto e tem-se tecto para se render no trabalho.  A existência é um corredor estreito,  sem janelas,  sem luz e de ar desoxigenado, cujo chão se faz de tempo.  Este corredor que se transpõe aos tropeções,  é uma ligação directa entre o início e o ataúde. Ponto final. "

Neste livro vamos conhecer o Filipe,  o Fernando e o Fábio,  três irmãos que vivem no código postal 4420 (Gondomar) nos arredores do Porto.
Filipe, o mais velho dos três é um homem inconformado com a vida que leva, não gosta do trabalho monótono e sem perspectivas que tem,  e que num golpe de sorte encontra o rumo que tanto anseia.
Fernando, o irmão do meio é o verdadeiro mitra do bairro,  sempre metido em confusões e em negociatas obscuras e que  mesmo depois de ser preso é alvo do endeusamento por parte dos seus vizinhos.
Fábio,  o mais novo é um rapaz calado e inteligente que vive para o momento em que vai ser conhecido e reconhecido por todos devido à sua arte.
Este livro de Pedro Miranda de Castro está cheio de passagens divertidas e que podemos facilmente encontrar no nosso dia a dia, mas é também um livro que nos mostra como é a vida nos subúrbios não só na zona do Porto, mas por todo o país,  o abandono escolar, a desestruturação da família, o tráfico e consumo de droga, a má relação entre a vizinhança, a constante luta por uma vida melhor e da esperança que talvez um dia ela chegue. É um livro muito bem escrito e estes três irmãos fascinantes merecem ser conhecidos por todos.