ERVA E DÁLIAS NA LATRINA, CAPÍTULO VII, PALAVRAS 14408-15051

Ninguém quer combater com o velho, H.; e ninguém vai combater com o velho porque o velho é chato e os movimentos dele são letalmente aborrecidos, o velho é… velho!, ok? Ele venceu um… Eu sei! eu sei e isso não muda rigorosamente nada. isto é assim e sempre foi assim, o jogo continua e as pessoas começam a descontinuar-se muito cedo e o teu velho parece um fuso de chumbo largado na boca dum poço seco… em que estavas a pensar, meu? estás a apostar as fichas num cavalo morto… e não tinhas de o fazer! mas, se queres que te diga, não estou admirado; nem por sombras… sempre foste assim, um inexplicável auto-sabotador. H. ria da cândida franqueza do seu amigo. Ele e L. R. Arbaredo tinham crescido no mesmo bairro e, apesar de Arbaredo ser um ano mais novo, tinham frequentado a mesma escola e pertencido à equipa local de hóquei. Eu entendia isso na altura, percebes? elas gostavam de ti e das merdas poéticas que dizias e desse teu ar de cão molhado; sim, sabes do que estou a falar! mas isso ainda resulta? Aposto que ainda te safas, não é Bukowski? pão com fiambre e os correios e o cabrão do O’Hara e o Ginsberg e o seu Uivo e a Joan Didion e a Hilda Hilst a enfiar os dedos dos leitores naqueles livros feitos de cona… oh, Jones, quem te fez mal, querido Jones? quem te magoou, sensível Jones? diz-me aquelas coisas bonitas, Jonesy, diz-mas, lê-me aquele Jonesy, sim, sim Jonesy, ‘o que tu foste não acontecerá novamente; os tigres encontraram-me e eu não me importo.’, dizias-lhes este… e dizias outros como se os tivesses escrito, filho da mãe HEHE, ainda lhes fazes o que fazias hã? aposto que andas em cima de uma; estás magro, ainda mais magro, ela anda a chupar-te tudo, não é Jonesy? e tu sabes… acho que sempre os leste melhor do que esses hippies beatniks malcheirosos, sem gosto, sem gosto nenhum…  um asco completo; sabes o que acho? que os dizes BEM MELHOR do que se fossem eles a dizê-lo e que os responsáveis são esses olhos de cão molhado, querido Jonesy! Lembras-te? dizias ‘Eu olho para ti e eu preferia olhar para ti do que para todos os retratos no mundo excepto, ocasionalmente, para o Cavaleiro Polaco…’ quem caralho é o cavaleiro polaco?

Há um par de semanas, H. vira a cara de Arbaredo estampada no jornal: NOVA GERAÇÃO TOP RANK, Top Rank, agência promotora de combates conhecida pela organização de pelejas de grandes lendas do boxe como Muhammad Ali, Marvin Hagler, Sugar Ray Leonard, etc., etc., sangue novo, etc. etc., rejuvenescimento, agilidade, buzzwords, nova geração, buzz, buzz bzzzzzz, pessoa A, pessoa B, pessoa C, Lucas R. Arbaredo, pessoa Z, são os novos promotores. Reconheceu-o pela expressão de susto e pelo acne anacrónico que a natureza lhe estampara na cara. Ouve, Lucky.. Oh! Não! Não faças isso, meu! Não apeles ao meu pobre coração nostálgico… já não me chamavam… isso… Ouve, meu.. o velho ainda tem aquilo, e tu sempre acreditaste nos meus instintos; lembras-te? encosta-o à direita, o disco vai rasteiro, ele costuma apontar para o meio das pernas, o ponto fraco do winger é o joelho esquerdo, lembras-te? lembras-te quando deste cabo do gajo no segundo período? era só fazer força naquele joelho esquerdo, Lucky! ninguém sabia mas eu sabia; o meu instinto sabia-o; o velho ainda tem aquilo! confia em mim, ok? Jonesy, se eu dou um passo em falso estou feito… a Top Rank tem aquela reputação e… Lucky! responde-me e quero que sejas absolutamente sincero… alguma vez… Jonesy… Alguma vez te deixei ficar mal? Sê honesto, Lucas! Alguma vez? Nunca. Pois; nunca. uma oportunidade, só uma, para mim e para o velho. OK! agora vê se comes, sua carcaça interesseira; a gaja está a chupar-te a carne, Jonesy…

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ERVA E DÁLIAS NA LATRINA, CAPÍTULO VI, PALAVRAS 13965-14407

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