ERVA E DÁLIAS NA LATRINA, CAPÍTULO V, PALAVRAS 10692-11935

H. tinha o pénis na mão e espreitava pela frincha da porta quando cruzou o olhar com J. Eiii!!! o miúdo! o atrasado mental está a bater uma a olhar para nós! Merda! M. correu para fechar a porta. Depois discutiram mas tudo acabou com um Shhhhh! já te disse! um atrasado mental não é surdo! M. voltou a abrir a porta e tinha as mamas cobertas de roupa, as pernas tapadas pela saia que não tapava quase nada. Até as meias tinha calçado mas a costura do calcanhar estava do lado errado do pé. Baixou-se e agarrou H. pelos ombros. A mãe de H. agarrava-o exactamente da mesma forma. Amiguinho, o que viste não é o que te parece, ok? Hmmm o que viste tu, amiguinho? Não vi quase nada H. respondia mas não havia certeza na resposta. Em essência, não mentia. Ok, amiguinho, podemos fingir que isto nunca aconteceu? H. olhava-a nos olhos. Depois choramingou. Ei, amiguinho! ei! não te preocupes! está tudo bem, ok? seremos sempre amiguinhos, ok? H. chorava mais. M. afastou-se. Viu que H.  torcia as pernas e, no chão, um líquido espesso manchava a alcatifa. Ei, não te preocupes! eu também já tive um acidente como este, ok? vamos limpar isto tudo e trocar-te as calças, ok? M. afastou as mãos de H. mas o líquido que pingava era vermelho muito vivo e escorria-lhe pelas pernas e pelas palmas, tiquetaqueando na alcatifa pontuada a reticências. Merda!! J. o miúdo cortou a pila! O quê? Ele cortou-a! Ajuda-me! Ajuda-me a procurá-la! J. saiu do quarto, acompanhado dum pivete a cigarros e peidos. És nojento, J.! Nojento! Ei, miúdo, vamos ver o que fizeste aqui HAHAHA o miúdo não cortou a pila… arranhou os tomates no fecho das calças, só isso… hmmm, oh, chama uma ambulância, M.! o miúdo tem os tomates fora do saco!

Havia uma ambulância à porta de casa quando Francesca J. Jones regressou do cabeleireiro. Era branca e vermelha e anunciava-se com as luzes de emergência do tejadilho que oscilavam como relógios de ponteiros loucos por fazerem correr o tempo. M. juntava as mãos defronte da porta da ambulância. Era uma prece verdadeira. A verdade das preces está na força entre as palmas das mãos, palma contra palma; e está na frequência da vibração dos olhos húmidos. Numa prece verdadeira, a frequência da vibração dos olhos faz tremer a voz e depois a respiração sempre se comove com as vozes trémulas, frágeis; as vozes de prece não têm abrigo, caem-se onde saem e ali permanecem, à espera que alguém as levante como se levanta um espírito que julgava já não ter morada no corpo. A médica abriu a porta da ambulância Está tudo bem, cosido,  tudo no sítio, como novo, você é a mãe? tinha um pedaço do cabelo a tapar-lhe os óculos. Não parecia incomodada. Não parecia ver com os olhos e não parecia ter tempo para afastar as melenas que lhe cobriam a cara. As lentes emolduradas sobre um aro de massa eram de vidro profundo e os olhos tinham uma qualidade quase lacustre. Eram olhos que podiam albergar peixinhos vermelhos, majestosas carpas vermelhas. Não, sou eu! eu sou a mãe a Sra. Jones agarrava o braço de M. M. abraçava-se a ela. Chorava-se pelos olhos e pelo nariz e pela boca saía-lhe um visco que poderia ser um artefacto da pila de J. Cosemos o escroto do seu filho e é capaz de ter dores e comichões nos próximos dias; lave a ferida com isto apontava para a prescrição médica e dê-lhe isto de oito em oito, ele consegue engolir… Sim, sim, ele consegue…! Excelente; no caso de febre, ligue para o hospital e peça para falar com a Dra…. apontava para outra linha da receita médica.

Foda-se.. Havia um pedaço de barriga a sair da camisa do Sr. Jones. Também uma orla de vinho nas calças, uma atmosfera de alambique no hálito e restos de fúria contida no som das palavras. Só me faltava andar a lavar os tomates do miúdo depois de um dia de trabalho.. é que estou com a vida por aqui o Sr. Jones nivelava a vida pela garganta e desculpa-me se, depois de aturar o cabrão do Sr. A. e aquele hálito a… hoje queria que ainda ficasse a assinar as portarias oficiais de deslocações, acreditas? havia toneladas delas, uma pilha o Sr. Jones nivelava a pilha à altura da barriga tudo aquilo porque o parvo do F… acreditas que o gajo conseguiu errar no preenchimento de todas as instruções normativas do trimestre? já me bastou, oh! se bastou!, ter passado o dia a pentear, a pente fino!, as movimentações analíticas que aquele cretino teve nas mãos nos últimos sete meses… eu bem o vejo, a suar, a suar, um porco autêntico, sua e sua, um nojo, cheio de medo que alguém lhe pergunte o que está a fazer porque ele sabe que não está ali a fazer rigorosamente nada! Há anos! Há anos, Fran! E depois a maneira presunçosa com que ainda assina as circulares e me passa os termos aditivos sem sequer olhar para mim, como se o tempo de olhar para mim lhe fizesse falta para despender em trabalho… e agora o miúdo perdeu os tomates? Não fales assim, ele está a ouvir; e ele não perdeu os… Talvez devesse ter perdido! talvez lhe façam tanta falta como o tempo ao cretino do F… dois cretinos… Chega! Ele está a ouvir! ele é teu filho! Meu filho? presumível, talvez… Não te atrevas! Olha para ele, Fran! H. tinha as mãos enoveladas. Os dedos entrelaçados faziam um novelo difuso e nervoso. H. não sabia onde colocar os dedos das mãos e o novelo ficava mais difuso e frenético mas não havia uma lágrima a lavrar-lhe a cara nem a pender-lhe da córnea; não havia um tremor de lábios; o olhar estava sobre um lugar morto entre o sofá e a parede onde não havia senão o nada absoluto. O Sr. Jones foi espreitar. Estás a olhar para onde, miúdo? hã?! o que vês aqui? aqui não há NADA O Sr. Jones apontava para o espaço morto. Ele é atrasado mental, tenho a certeza; de que seja meu filho, tenho sérias dúvidas, Fran! sérias dúvidas! e agora tenho um filho sem tomates… Ele não perdeu…! é só uma cicatriz feia, uma cicatriz feia, não é amor? A Sra. Jones tapava os ouvidos de H. Os olhos de H. tinham-se estacionado no lugar morto. Foda-se, e eu tinha comprado os bilhetes… queria levar o miúdo ao combate! foda-se, se este não é um dia de merda… A Sra. Jones chorava e pressionava as mãos contra as orelhas de H. Ei! não! não chores, Fran… vá lá… chega aqui abraçou-a contra o peito Cheiras a vómito! Ei! Eu bebo porque carrego uma vida de merda, Fran! uma vida de merda, ouviste? tudo por ti, percebes? foda-se! agora quero o que é meu! o que é meu, entendes? O Sr. Jones pegou na Sra. Jones pelo braço. Ela deixou-se cair na alcatifa. O Sr. Jones era um homem enorme, tinha no corpo as memórias de um antigo pugilista. Arrastou sem dificuldade a Sra. Fran até à cozinha e bateu a porta atrás deles. A porta resvalou e voltou a entreabrir-se. A saia da Sra. Fran era uma corola na primavera. Abriu o gineceu resignado e entregou-se. ÓH! ÓH! ÓH! Puta! Puta! Puta… Puta.

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